Sustentabilidade

Arquitetura vai hoje além do paisagismo e busca interação com a natureza

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Fachadas cobertas por jardins verticais, hortas comunitárias, lagos artificiais e materiais de origem natural são algumas entre as muitas estratégias empregadas por arquitetos contemporâneos para integrar cada vez mais seus edifícios à natureza.

A tendência tem origem na biofilia, princípio do design que defende a influência direta do meio ambiente na qualidade de vida. As abordagens mais comuns envolvem o uso de elementos como plantas, água e muita luz natural, mas há também quem busque nas formas e volumetrias orgânicas uma maneira de mimetizar as preciosas lições encontradas no meio natural.

O verde vai além da mera contemplação e assume o protagonismo nos espaços construídos, criando atmosferas imersivas e acolhedoras. Nelas, até as atividades mais rotineiras dos moradores convivem em harmonia com a flora e fauna local, com a menor interferência possível.

Um dos primeiros edifícios residenciais a ganhar as manchetes por sua conexão radical com a natureza foi o projeto Bosco Verticale, assinado pelo escritório Boeri Studio para a cidade de Milão, na Itália. Responsável por popularizar o termo “floresta vertical”, a construção combinou duas torres de alta densidade à varandas com arbustos, espécies florais e árvores de grande porte para criar um microclima de absorção de carbono e preservar as temperaturas dentro dos apartamentos.

Desde que o complexo foi finalizado, em 2014, muito já foi experimentado na arquitetura. Cingapura está abrindo caminho para a criação de um ambiente urbano mais sustentável com projetos de uso misto como o Kampung Admiralty, construído em 2018 pelo escritório local WOHA. O empreendimento é voltado para a terceira idade e conecta suas múltiplas torres independentes a partir de uma cobertura verde pública, com piscina, horta e espaços de encontro e bem-estar.

Mais do que preservar, a arquitetura visa justamente estimular a biodiversidade. Desenvolvido pelos escritórios Venhoeven CS e DS Landschapsarchitecten, o edifício ZOÖP Zeeburg Sluisbuurt Amsterdam quer dar atenção especial a telhados verdes e fachadas recobertas por vegetação para criar micro ambientes naturais e otimizar o consumo de energia. Na distribuição dos espaços, são previstas áreas dedicadas a lagos, pasto e hortas para os moradores.

Reforçado pelo isolamento social da pandemia, o desejo de estar próximo à natureza promete ditar a arquitetura daqui para frente: “É surpreendente que nos últimos séculos tenhamos tratado a natureza como algo que estava fora de nós, fora de nossos corpos, fora de nossas casas. Nossa relação com a natureza precisava ser completamente redefinida, e esta exigência de proximidade é também uma reação a isso”, explica o arquiteto Stefano Boeri.